


trama de nós
2022
A exposição trama de nós foi realizada no ATAL609 lugar de investigações artísticas, em Campinas/SP, setembro de 2022. Trata-se de uma exposição processual na qual experimentei colocar em diálogo os trabalhos mais recentes de minha pesquisa no mestrado: corpo-linha-selvagem. O corpo como espaço político-ético-estético, um sistema aberto que cria mundos ao mesmo tempo que participa deles, propondo tramas vitais e afirmativas emaranhando-se em um estra-viver-junto multiespécie, numa trama de nós. Nós!!
trama de nós
Fazer linha, perceber linha, sentir linha, viver linha, são chamados pulsantes nos trabalhos de Mariana Vilela. No protagonismo da linha, a artista revela o convite a sair de uma perspectiva humana demais e a dar atenção aos modos de existir que se fazem em enredamentos multiespécies. Nada mais se encontra isolado. São feixes, molhos, maços, tufos, ramos, fibras, cordões, filamentos, túbulos e veios por toda parte. Linhas de variados tipos que, de diferentes modos, se ligam e articulam através de laços, elos e nós, se juntam e se complicam em redes, urdiduras e tramas. Aprendemos que as artes e as ciências das linhas são femininas e envolvem torções, tensões e simbioses entre corpos, espécies, meios e reinos. Que o que importa são as possibilidades de viver junto, de engravidar mundos, de fazer floresta. E que tudo isso passa pelo corpo. Passa por fazer corpo com mundos animados e experimentar o corpo como uma mesa de trabalho espiritual. Onde se ativam microecologias entre humanos, papéis, tecidos, plantas, insetos, texturas, cores, cheiros…, onde se instauram percepções mais que humanas, onde as oposições entre humano e não humano, entre organismo e meio, entre teoria e prática não têm vez. E as plantas são companhias privilegiadas da artista nessa aventura, de um pensamento em ato, que ganha qualidades vegetais. Seus trabalhos expandem as possibilidades de pensar a “virada vegetal” de Emanuelle Coccia, as “espécies companheiras” de Donna Haraway, os “mutualismos multiespécies” de Anna Tsing. Convocam novas alianças para habitar o Antropoceno, para voltarmos a confiar em um nós muito mais complexo e misterioso.
Susana Dias